sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Saúde do corpo e da alma

Professor Teodoro
Deputado estadual


Uma frase do jornalista Nonato Albuquerque resumiu a mensagem da CNBB com estas palavras: “A Igreja, que sempre cuidou da saúde da alma, faz a integração com a do corpo na Campanha da Fraternidade”. Pois foi este também o aspecto abordado pelo papa Bento XVI em sua mensagem ao cardeal Raymundo Damasceno Assis, arcebispo de Aparecida e presidente da CNBB. Disse sua santidade: “Para os cristãos, de modo particular, o lema bíblico é uma lembrança de que a saúde vai muito além de um simples bem estar corporal”.

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil escolheu a saúde pública como tema de sua Campanha da Fraternidade, iniciada nesta quarta-feira, como acontece todo ano na abertura da quaresma, que é a preparação para a páscoa. O tempo é de conversão e reflexão. Extraído do capítulo 38 do Eclesiástico, no versículo 8, - Que a saúde se difunda sobre a terra -, o lema se propõe a suscitar nas pessoas o espírito fraterno e comunitário das pessoas na atenção aos enfermos e mobilizar pela melhoria no sistema público de saúde.

O tema é tão presente, que é o primeiro problema apontado pelos brasileiros. E o mais recorrente, tanto que não é a primeira vez que inspira a Campanha da Fraternidade, o último foi Saúde para todos. O tema é trazido com duas vertentes, uma política e de mobilização, cobra ações do governo. A outra, de cunho mais espiritual, cobra uma atitude em relação ao seu irmão enfermo.

O Brasil tem um dos melhores sistemas de atendimento público de saúde. O Sistema Único de Saúde, em termos de índices de universalização e atendimento por número de pessoas, é o segundo do mundo, só ficando atrás do sistema americano. As técnicas, os transplantes, a produtividade médica falam bem de nosso atendimento. No entanto, se dispomos da melhor técnica médica e de equipamentos de ponta, temos também um grave problema de financiamento.

Apesar da infraestrutura física ser razoável, falta gente nos hospitais, a demanda é cada vez mais crescente, e o país não tem conseguido acompanhar a contento, principalmente diante das tragédias urbanas, em que os acidentes de trânsito, principalmente de motos, têm apresentado desafios equivalentes ou superiores ao de uma epidemia.

Nos feriados prolongados, a pauta inescapável da imprensa é o número de acidentados que coloca em destaque a lotação dos hospitais, numa fila de leitos, cenas de horrores, de sofrimento. O SUS, com todas as reclamações registradas pela população, é a única saída para milhões de brasileiros. Antes o atendimento era apenas para quem possuísse carteira de trabalho, hoje é um patrimônio de todos os brasileiros.

A saúde, junto com a educação que lhe é parte indissociável, é prioridade absoluta, porque a doença atinge a todos, sem exceção, embora só a poucos seja dado o desfrute das melhores tecnologias para combate e prevenção de doenças. No apelo cristão, há fortes referências aos enfermos. O próprio Cristo expressa “estive doente e me visitaste” como reconhecimento futuro dos fieis pelas obras.

A visita a enfermos pode abranger as duas circunstâncias abordadas pela Campanha da Fraternidade. A primeira diz respeito à solidariedade à dor alheia, que sempre reconforta o doente. A segunda é para conhecer de perto como é o sofrimento nos postos e hospitais da rede pública. Quando ouvimos reclamação até de usuários de planos de saúde sobre o atendimento, imagine para quem só dispõe do SUS.

O segundo apelo da Campanha da Fraternidade é o próprio conceito de saúde, que também abrange o espiritual. Esse aspecto foi negligenciado pela ONU quando, em 1946, conceituou saúde: “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de saúde”. A espiritualidade como aspecto da saúde só chegou aos documentos da Organização Mundial da Saúde em 2003.

Em sua mensagem aos brasileiros, Bento XVI fundamenta biblicamente: “No episódio da cura de um paralítico (cf. Mt 9, 2-8), Jesus, antes de fazer com que esse voltasse a andar, perdoa-lhe os pecados, ensinando que a cura perfeita é o perdão dos pecados, e a saúde por excelência é a da alma, pois «que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua alma?» (Mt 16,26). Com efeito, as palavras saúde e salvação têm origem no mesmo termo latino salus e não por outra razão, nos Evangelhos, vemos a ação do Salvador da humanidade associada a diversas curas: «Jesus andava por toda a Galileia, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando todo o tipo de doença e enfermidades do povo» (Mt 4,23)”.

Ao apelar para a solidariedade aos enfermos, a Igreja se volta para seus primórdios, quando a caridade distinguia os cristãos. O sociólogo americano Rodney Stark, professor de sociologia e religião comparada da Universidade de Washington, escreveu o livro “O Crescimento do Cristianismo: um Sociólogo Reconsidera a História”, em que fala dessa característica. A obra foi lançada no Brasil pelas Paulinas.

O sociólogo sustenta que uma das raízes da expansão cristã é a caridade, virtude exposta pelo apóstolo Paulo como a primeira. No início dos séculos de nossa era, o cristianismo se consolidou nas cidades greco-romanas como religião da solidariedade. Segundo Stark, numa resenha do livro, escrita por Reinaldo Azevedo, amor ao próximo, misericórdia e compaixão fizeram com que a taxa de sobrevivência entre os cristãos fosse maior do que entre pagãos.

O tempo da Quaresma, preparatório para a Páscoa, traz essa reflexão para a saúde, que vai de um modo geral, tentando garantir e ampliar os direitos conquistados no SUS, desce para a ação solidária do conforto ao irmão enfermo e chega ao ponto pessoal, sobre nossos hábitos saudáveis. Afinal, Cristo, sacralizou o corpo, como morada do Espírito Santo. Como estamos tratando essa morada? Que podemos fazer para melhorar a saúde pública, amenizar o sofrimento dos enfermos e cuidar com mais zelo de nossa própria saúde?

Em relação ao lema da Campanha “Que a saúde se difunda”, cremos que, nos últimos anos, o Ceará tem presenciado algumas realizações, que merecem consideração. A saúde, assim como a educação e a segurança pública, tem apresentado resultados.

Esta gestão já reformou o Hospital Geral de Fortaleza, inaugurou o Hospital Regional do Cariri, em Juazeiro, instalou diversas clínicas médicas especializadas, além dos Centros de Especialidades Odontológicas- CEO. Já são 12 CEOs – 9 no interior e 3 em Fortaleza. Além disso, já se encontra em fase avançada de construção o Hospital Regional da Zona Norte, em Sobral, e tem a previsão para outro no Sertão Central, em Quixeramobim, e mais um grande hospital aqui na região metropolitana de Fortaleza.

Com isso, também está contribuindo para desafogar as atividades do Instituto José Frota, um grande hospital de referência em emergências, mas que vê sua capacidade se esgotar com as demandas de todo o Estado.

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