Giovanni Colares
Quando o fariseu Nicodemos encontrou-se com Jesus (cf. Jo 3, 1-15), sob a protetora escuridão da noite, ouviu algo estranho sobre ter que nascer de novo e sentiu-se incomodado (“como pode isso acontecer”?) querendo esclarecimento, ou mesmo interferindo no ensinamento ali recebido, tendo – provavelmente – não prestado a devida atenção à frase de forte efeito didático para o fortalecimento da fé ali oferecida: “O vento sopra onde quer e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai” (Jo 3, 8a).
Conta-se que, no final da década de 1950, o Papa João XXIII em gesto dramático – e propositalmente didático – mandou abrir uma janela e, sob a sensação agradável de uma brisa que tomou o ambiente, mostrou o que a Igreja Católica precisava naquele momento, arejar-se com urgência... E sob um conceito resumido em uma palavra: aggiornamento, que cunhou-se como ícone da necessidade de então, devia-se buscar uma atualização da Igreja para um encontro mais profícuo com o comportamento humano do pós-guerra que se fazia com fortes, profundas e irreversíveis mudanças.
Para tão enorme esforço, diferente de tantos outros concílios, o Concílio Vaticano II precisava trabalhar não para dirimir dúvidas e contendas (como outrora acontecera em relação às heresias surgidas e que ameaçavam esgarçar o tecido teológico da Igreja), mas para uma renovação desafiante que não rompesse as bases (portanto não poderiam ocorrer inovações). Foi neste desafio que o Papa encontrou no corpo episcopal a possibilidade de fazê-lo com maestria, e – é óbvio – precisaria do Paráclito (prometido e enviado pelo próprio Jesus) para que o Vento Maior (o Espírito Santo) trouxesse - por meio daqueles - a brisa tão necessária.
A cada promulgação (de todos os dezesseis documentos) era pronunciada a seguinte fórmula de invocação: “E Nós, pelo Poder Apostólico por Cristo a nós confiado, juntamente com os Veneráveis Padres, no Espírito Santo, os aprovamos, decretamos e estatuímos”.
Os excessivos estudos e propostas abundantes, que geraram grandes discussões, fizeram daquele momento uma Igreja fervilhante, por meio de seus Bispos, em profunda ação intelectual e exercício de escolhas (obviamente sempre pautadas pelos basilares: Bíblia, Tradição e Magistério) o que ajudou a pensar na Unidade (inclusive pela característica ecumênica daquele Concílio) como rogou o Cristo na sua Oração Sacerdotal (“Que
todos sejam um”. Jo 17a).
Precisamos que esta Brisa Sagrada continue a soprar, sendo agora – também - a vez de todos nós, os Leigos que devem cumprir o dever iminente (e que foi acentuado por tantas mudanças implementadas a partir da década de 1960) de ser parte atuante desta unidade tão necessária: ser agentes essenciais da Mensagem e do Caminho, sempre com Ele: “Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações, e batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-lhes a observar tudo o que vos tenho ordenado. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28, 19-20).
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