Pe. Geovane Saraiva*
A vida de Dom Helder é como uma mina de ouro que precisa ser sempre e cada vez mais explorada, com um dom maravilhoso de Deus. Vida de uma beleza, que podemos dizer, diferenciada, nos seus gestos raríssimos em favor da vida dos empobrecidos, dos “sem voz e sem vez”. Ao assumir a Arquidiocese de Olinda e Recife em abril de 1964, disse: “Quem estiver sofrendo, no corpo ou na alma; quem, pobre ou rico, estiver desesperado, terá lugar no coração do bispo”.
Dom Helder, pequeno na estatura, mas grande nos sonhos, nos ideais e na santidade, colocou sua vida nas mãos do Pai, com a firme convicção e com confiança inabalável de que a pessoa humana é o que existe mais sagrado na face da Terra porque é imagem e semelhança de Deus, tomando para si as alegrias e esperanças, as tristezas e angústias dos homens de hoje, sobretudo, dos que mais sofrem.
O sonho carregado ao longo da vida e acalentado no seu coração foi o de colocar a criatura humana em um lugar de destaque, também num lugar bem elevado. Marcou profundamente uma época e nos deixou um grande legado e uma grande lição. A lição de que o deserto da nossa vida tem que ser fertilizado pela Palavra de Deus e que a vida está acima de tudo, que ela é mais forte do que tudo, mais forte do que a morte.
Dom Helder, com sua inteligência privilegiada, sempre demonstrou firmeza nas atitudes e coerência nas ideias, que podemos perceber através dos seus pensamentos: “Quando houver contraste entre a tua alegria e um céu cinzento, ou entre a tua tristeza e um céu em festa, bendiz o desencontro, que é um aviso divino de que o mundo não começa nem acaba em ti”. “Quem me dera ser leal, discreto e silencioso como a minha sombra”.
A vida de Dom Helder, com aquele corpo franzino, que se agigantava na pregação da fé e da justiça e daquela voz inconfundível e extraordinária, que se transmutava em possantes amplificadores na defesa da vida fraterna e da paz, ficou como exemplo de dignidade e marcou em profundidade a história da humanidade. Ele queria ser lembrado com esta frase: “a imagem que gostaria que ficasse de mim é a imagem de um irmão”.
É maravilhoso saber que Deus se revelou e se manifestou, em toda sua plenitude em Dom Helder Câmara, que viveu não só para si, mas para a humanidade.
Uma missa de ação de graças pelos 103 anos de nascimento de Dom Helder Câmara foi celebrada no dia 7 de fevereiro passado, na Paróquia de Santo Afonso (Igreja Redonda), data em que o religioso nasceu em 1909.
Pe. Geovane é pároco da Igreja de Santo Afonso (artigo publicado no O Povo de 12/02/2012)
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